13/08/2018

O SILÊNCIO DE DEUS


“A minha graça te Basta!” Ou  ainda: A minha graça é tudo o que você precisa”.  II Co 12:9

O SILÊNCIO DE DEUS
Começou um novo semestre no Instituto Bíblico e estou a ensinar duas disciplinas apaixonantes: Teologia da Educação Cristã e Novo Testamento. Nossa escola ensina o NT dividido por autores. Começamos com os livros de Lucas, depois Paulo, João e por último os demais. Assim, vou ensinar NT1 (Lucas e Atos). Para introduzir essa semana falamos do período Interbíblico, que se refere aos 400 anos de silêncio entre o último profeta do A.T.(Malaquias) até João Baptista. Numa vida com tanta poluição sonora, o silêncio é necessário, e imprescindível para ouvirmos a nossa alma e a voz de Deus. Mas, outras vezes, o silêncio pode ser inquietante. 

Por exemplo, quando oramos por algo e não ouvimos resposta, ficamos angustiados. Dá a impressão que nada acontece. São aqueles dias entre a Cruz e a Ressurreição. Parece que Deus está em silêncio. Embora possamos pensar que Deus está ausente ou indiferente Ele nunca para de trabalhar. O período interbiblico foi mais que silêncio, foi um tempo de preparação, pois Deus estava a agir no contexto político e sociocultural, e mesmo no coração dos homens. Deus estava a montar o cenário para enviar o seu filho à terra. Foi então, que eu lembrei do tempo fazíamos teatro no seminário, e antes dos actores entrarem em cena havia uma equipe do cenário que montava o palco. Quando as cortinas abriam, tudo estava no lugar. Era a hora da acção. As cortinas não podiam abrir antes que tudo estivesse preparado. Silêncio, às vezes, é a antessala do chamado “Kairos de Deus”, a “plenitude dos tempos”. 

Em Moçambique o ritmo dos acontecimentos às vezes é tão lento que é perturbador. Os documentos demoram, a construção demora, os eventos demoram, as filas demoram, o trânsito demora... Parece que nada anda e que as cortinas não abrem, parece que Deus está em silêncio. Isso, às vezes, desanima. Mas tem outros dias nos quais as coisas deslancham. Aí eu me pego a pensar nas lindas músicas moçambicanas e aprendo com elas. Quando os jovens entram a cantar, de repente, as belas vozes silenciam por um pouco, e só se ouve os pés a baterem ou arrastarem no chão, numa linda marcha. E nós, os meros assistentes, ficamos ali deslumbrados, diante do silêncio a apreciar a marcha. A música cessa, mas, é apenas uma pausa, e de repente as vozes quebram o silêncio de novo. 

PAUSAS! A vida, é como uma bela música, tem suas pausas. Por exemplo: O projecto social, avança, lentamente e às vezes dá passo atrás, outro a frente (como as marchas). Finalmente, já temos na mão, os documentos do novo terreno onde foram corrigidas as medidas, mas depender dos órgãos públicos requer paciência com o silêncio e demora. O doutoramento, que tem prazos para serem cumpridos, também enfrenta o desafio do silêncio e da demora. No meio de tudo isso, vem o sentimento de urgência”, pois já completei os meus 26 anos e meio na África e ainda há tanto por fazer, mas o o tempo cada vez mais curto. 
Como ouvi certa vez, é uma sensação de urgência que surge do ver que já passaram muitos “ontens” e faltam poucos “amanhãs". 

No meu silêncio, tenho ouvido e experimentado a doce voz do Senhor a dizer: “a minha graça te basta e o poder se aperfeiçoa na fraqueza”. 
Conto com as vossas orações para avançar no ritmo do Espírito Santo e aprender a conviver com as pausas segundo a batuta do nosso grande maestro. 

Um forte abraço a todos

Maura Juçá Manoel

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Publicado por André Metz