17/06/2019

Reconstrução de telhados, vidas e sonhos

Às vezes olhamos as circunstâncias e achamos que algo parece inviável e totalmente impossível, por isso a nossa resposta é NÃO. Mas, quando Deus tem uma vontade já estabelecida, Ele a cumpre e nos ajuda a percebê-la.

Depois que o ciclone passou, um irmão de Florianópolis (Paulo) me escreveu a dizer que queria vir a Beira nos ajudar na reconstrução. Quando olhei as circunstâncias, eu respondi, que infelizmente, não era possível. A situação era precária naqueles dias, sem eletricidade, sem água, sem internet, e era difícil até comprar comida.

Além disso, como eu poderia receber um homem sozinho? A casa de hóspede da missão estava, e ainda está danificada, e como solteira, não podia receber alguém do sexo oposto. Olhava para as paredes ainda com mofo, a casa coberta com lona, mas com muita infiltração, as janelas, algumas arrancadas e outras com plástico e pensava: não dá. E a resposta foi: NÃO!

Mas, a perseverança de Paulo me fez lembrar Apóstolo Paulo. Ele insistiu, de novo e de novo.

Quando viajei para Savane (área rural), apesar das circunstâncias, eu fui recebida de uma forma maravilhosa. Só tinha água de poço, banho ao relento (pois casa de banho tinha sido destruída), hospedagem numa casa de estacas com paredes improvisadas de plástico. Foi aí que Deus falou comigo: Maura, falta de condições não é impedimento. Receba!

Eles não têm nada, mas estão abertos, como você pode dizer não? Então, escrevi naquela noite ao Paulo e disse: “se é da vontade de Deus, se Ele te mandou vir, então venha! Eu resolvo a logística”.

Desafiei várias pessoas (mulheres e homens) para formar uma equipa e resolver a questão hospedagem, mas apenas minha amiga (Andréa) aceitou o desafio. Ela decidiu cumprir uma promessa de 28 anos atrás de vir me visitar.

Eles não se conheciam antes, cada qual de uma cidade, dons e temperamentos diferentes, mas que deu muito certo. Formamos uma dupla de água de vinho. Eles me proporcionaram dez dias de muita alegria. Obrigada Paulo e Andréa.

Foram dias intensos. Acordávamos cedo e tínhamos o dia cheio de actividades. Eles chegaram na véspera do aniversário do nosso Instituto Bíblico e de cara se emocionaram com os lindos grupos corais. Aí veio o Domingo na Igreja. Um culto de ofertas para ajudar a cobertura do templo destruído pelo ciclone. Uma grande festa. Aquele domingo foi a recepção dos hóspedes, e no domingo seguinte a festa de despedida. O que não faltou na viagem deles foi festa. Isso incluiu a festa das mamas, do dia das crianças e do meu aniversário.

O cabrito e o boi
Queria que o tempo dos hóspedes fosse maior na Beira para que eu pudesse levá-los para fora da cidade, para que eles conhecessem o “MOÇAMBIQUE REAL”, já que Beira é ainda a segunda maior cidade do país. Mas, infelizmente, pressionada com a viagem a Nampula para a defesa do Doutoramento, não foi possível. Porém, conseguimos fazer uma pequena viagem durante a estadia deles. Fomos à Nhamatanda uma localidade que fica a duas horas da Beira, lá, um irmão perdeu a esposa com tuberculose. Como o funeral foi no dia da chegada dos hóspedes não pude ir, e assim, decidimos ir fazer uma visita de consolo e orar pelo viúvo e os cinco filhos que ficaram.

Viajamos de transporte público, na ida com um certo conforto, pois contactamos um irmão da igreja que era o dono do carro. No retorno viemos apertadinhos, como é de costume. Eles puderam ver um outro cenário, inclusive como partes da estrada ficaram destruídas com a força das águas. Eles viajaram na companhia de galinhas e até um cabrito sendo levado no bagageiro, com as bagagens por cima dele. Coisas de Moçambique!

Onde entra o boi na história?

Se lhe perguntasse como faz o Boi? a resposta seria unânime: MUUUUUUUUU.

Mas, para a nossa surpresa, quando essa pergunta foi feita durante o culto, toda a igreja respondeu, em uníssono: BOMMMMMMM

O contexto era que o pastor tinha pregado sobre o facto de que não podemos viver a reclamar, respondendo quando nos perguntam: como está? – Estou mal, ou por vezes: eu estou muito mal!
Ele disse que precisamos a confiar em Deus e ver as coisas noutra perspectiva, e por isso devemos responder: Eu estou bem! Eu estou muito bem!

Terminada a mensagem do pastor, o secretário veio com o fecho, encorajando a igreja a
ser como o boi que sempre responde: BOMMMMM.

Vamos confirmar em Deus e não olhar as circunstâncias! (Habacuque 3:17-19)

Vaquinha
Vaquinha eletrônica. Eu já tinha ouvido falar, mas nunca fiz e nem sabia como funcionava. O meu hóspede resolveu fazer uma vaquinha eletrônica para ajudar na reconstrução. “Reconstruindo telhados, vidas e sonhos”. Esse foi o lema da campanha feita pelos hóspedes quando se prepraram para vir à Moçambique. Achei muito apropriado. Afinal de contas, o ciclone IDAI não destruiu apenas casas. Com os telhados que se foram, e as paredes que desabaram, muitos bens foram destruidos e muitos sonhos arruinados. Pessoas ficaram abaladas psicologicamente.

Esse foi o caso de um dos nossos alunos, que tinha acabado de construir sua casa e estava na fase final, lutando para sair do aluguel e mudar para a casa nova. Tudo desabou. Sua casa e seus sonhos. Ele se chama Castanheiro, e é um dos irmãos que estamos ajudar a reconstruir a sua casa e os sonhos.

Várias casas estão nesse processo de reconstrução. Até ao momento, conseguimos apoiar várias famílias com alimentação, tanto na igreja como no PROIDE. apoiamos a cobertura de 5 casas, estamos no processo de reconstrução de outras 5 casas, e cobrimos duas igrejas detelhadas com o ciclone.

Obrigada Igreja Brasileira por ter olhado para Moçambique.

Uma canção nos lábios de todo o país 
Por qualquer lugar que se passasse essa era a canção: “um de junho é o dia... dia, é o dia, dia, é o dia das crianças”. Esse é um dia muito especial em Moçambique pois todos, ricos e pobres comemoram o dia das crianças. Deus me deu o privilégio de nascer nesse dia e ano após ano comemoro com os miúdos o dia deles e o meu. Esse ano com a ajuda dos hóspedes organizamos uma festa com direito a teatro, alguns jogos, canções e presentes. É tudo muito simples, mas encheu o coração deles de alegria e o meu também. As bonecas de pano foram confeccionadas por mulheres no Brasil e durante a visita as mamas do projecto de artesanato foram ensinadas e desafiadas a continuarem a confeccionar.

Louvo a Deus por mais um ano de vida. 

Maura

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Publicado por André Metz